Janeiro, um mês de belezas literárias e cinematográficas
Tudo que me aqueceu nesse eterno janeiro invernal, que passou bem longe de ser infernal ♥️
Não sei se vou conseguir manter o mesmo ritmo de leituras (e sessões de filmes e séries) como nesse primeiro mês de 2023, talvez seja porque esse janeiro durou 45 dias e estamos todos duros, a alternativa foi ficar em casa, absorvendo o máximo de entretenimento possível. O que sei é que não me lamentei, aproveitei os dias frios para me fechar no casulo e fazer aquilo que já faço por gosto, quando não tenho motivos pra me sentir culpada porque os dias lá fora parecem exigir que eu saia e viva como qualquer pessoa normal.
Sendo assim, aproveito a última edição da newsletter desse mês pra falar sobre essas experiências literárias e cinematográficas que me aqueceram nesse janeiro invernal que, pra mim, passou bem longe de ser infernal. Aproveito também pra compartilhar sobre as minhas sensações térmicas, em paralelo, porque é impossível dissociar uma coisa da outra.
Esse mês eu consegui a proeza de ler quatro livros e estou me sentindo meio flutuante agora enquanto escrevo. Toda engatilhada também, é verdade. Pensando demais, inclusive em pegar mais leve nos dias que estão por vir. Talvez eu esteja lendo demais pra escapar de um projeto de escrita importante do qual eu sei que preciso voltar a me debruçar: o meu romance.
(Um clássico, né? Escritores não são nada originais.)
O ano começou anunciando a estreia da série “A Vida Mentirosa Dos Adultos” na Netflix, uma adaptação do livro de Elena Ferrante. Fiquei eufórica e ansiosa. Mas esse era um dos poucos romances da autora que eu ainda não havia lido e me recusava a assistir a série sem antes ler o livro. Tive, então, que fazer as pazes com meu Kindle e devorei o livro em poucos dias, da mesma forma que fiz com a série.
O bom de ter assistido seguida da leitura é que estava tudo bem fresco na minha memória e achei que, a maior parte do tempo, o roteiro foi bastante fiel ao livro, exceto no penúltimo capítulo. Até mesmo os diálogos se mantiveram, em muitos momentos, iguais ao enredo do romance. Tudo isso porque a maravilhosa da Ferrante escreve de uma forma muito magnética, quase visual (e, é claro, porque ela também assina como uma das roteiristas da série).
Mas achei um pecado não ter tido um toque feminino na direção. Não chegou a estragar, mas uma trama com contornos tão femininos, protagonizada por uma menina entrando na puberdade, teria ganhado imensamente com a sensibilidade de uma direção feminina. Paciência.
De todo jeito, pra mim é sempre uma delícia assistir produções italianas. Eu amo a língua, adoro a intensidade dessa gente. E amei, particularmente, quando descobri que o Alessandro Preziosi estava no elenco. Esse homem, afff…
Quando vi que a Ferrante tinha lançado há poucas semanas um livro sobre o universo da escrita, ele virou instantaneamente meu objeto de desejo. E mesmo não tendo o hábito de emendar uma leitura na outra do mesmo autor, eu passei a desejá-lo com urgência. Eis que 48h depois recebo essa coisa linda de presente da minha amiga Gabriela Ventura, com quem eu não havia comentado absolutamente nada a respeito. Ela simplesmente me mandou o livro, como se adivinhasse meus pensamentos.
Comecei a ler imediatamente “As Margens e o Ditado” e… minha deusa do céu, da terra e do mar! Que experiência! Eu destaquei tantos trechos e tive tantas epifanias que vou precisar dedicar uma newsletter inteira só pra falar dele e de como me senti lendo esse livro. Obrigada, Gabs ♥️. Obrigada, Ferrante!
Não faz sentido fotografar todas as páginas que eu destaquei no meu kindle para colocar aqui, então escolhi esse trecho para seu deleite:
Depois, segui para minha leitura de estreia da escritora Annie Ernaux: A Vergonha.
Tá, entendi a fama da autora. Não é à toa que Ernaux levou o Nobel de Literatura em 2022. Escreve sem rodeios e te prende. Me senti amarrada ao livro e li numa sentada só, mesmo porque é um livro que te permite isso por ser breve, escrito com uma linguagem simples, clara e fluida que te deixa com a sensação de flutuar pelas páginas, permitindo uma compreensão instantânea. Mais do que isso: provocando uma identificação quase imediata. Você rapidamente começa a se familiarizar com a sensação de vergonha, mesmo que as suas sejam (ou tenham sido) de outra natureza. Gostei muito.
Me incomodou um pouco os tempos verbais se misturando entre passado e presente, às vezes, até no mesmo parágrafo. Tudo bem que, por se tratar de um livro de memórias, é natural que seja assim, mas eu não consigo deixar de pensar que uma revisão mais cuidadosa poderia resolver isso facilmente.
Estou ansiosa pra ler o próximo da minha lista, que é “O Acontecimento”.
Por fim, fechei o mês com o livro que eu tinha começado a ler em dezembro do ano passado, mas abandonei por motivo de: triste demais. Eu estava triste demais e o livro também é, mas é também tão bonito que eu voltei pra ele, agora que eu tô devidamente medicada e me sentindo minimamente equilibrada pra encarar a vida de uma personagem mais fodida da cabeça do que eu.
Eu to falando de a “Pequena Coreografia do Adeus”, da Aline Bei. Como é doloroso ver uma coreografia de abandonos, traumas e tentativas de se encaixar no mundo e, ao mesmo tempo, fascinante assistir a performance da autora com as palavras. Embora não seja meu estilo narrativo favorito, achei poderoso o jeito como a Aline amarra as palavras e, do nada, te arranca suspiros e lança luz nas suas dores enquanto te atira às trevas.
Acho até que foi bem lindão esse meu mês literário, né não? Uma italiana veterana e uma francesa e uma brasileira novatas na minha lista de autoras. Eu gostei bem muitão.
E como janeiro durou 45 dias, ainda deu tempo de curtir altas sessões de cinema em casa. :)
Séries e filmes
Sem dúvidas, o que mais me marcou foi a série que eu estava louca pra ver há tempos e finalmente consegui assistir: The Bear. Fiquei até com a sensação que depois dela, não vou conseguir ver mais nada, porque olha… que obra prima! O luto, presente em todos os episódios, ficou impregnado em mim depois do último episódio. Confesso que foi um pouco difícil assistir outras séries depois dela. Pra mim, particularmente, foi uma verdadeira aula. Achei tudo, tudo, tudo impecável: roteiro, direção, elenco, fotografia, trilha sonora. Virou minha nova referência.
Das outras séries que assisti e que eu acho que vale a pena maratonar, estão: Borboletas Negras e A Mulher dos Mortos, ambas produções europeias e disponíveis na Netflix.
Filmes eu vi muitos, mas vou listar só aqueles que se fixaram na minha memória de Dory, porque eu sei que é assim que um filme me marca de forma indissolúvel:
Lamb - Mubi (um dos filmes mais marcantes que assisti nos últimos tempos. Vi há 30 dias e as imagens ainda voltam na minha cabeça a todo tempo! Lamb funciona como um conto de fadas sombrio, simples, e com tudo que se tem direito - incluindo suas limitações e lições morais - mas é enriquecido por seu conceito e estética. Mais uma produção primorosa da A24)
Tudo em todo lugar ao mesmo tempo - Amazon (eita filmaço da porra! Esse aqui teve nada mais nada menos do que 11 indicações ao Oscar! Apenas assistam!)
Emergência - Amazon (aquele filme que te deixa apreensivo do começo ao fim, muito bem construído, onde os protagonistas agem de forma que não condizem com seus comportamentos por medo de morrer ou serem considerados culpados por um crime que não cometeram simplesmente por serem negros e latinos. Foda!)
RRR - Netflix (um filme indiano muuuuito louco, que mistura diversos gêneros, como ação, aventura, épico, história, fantasia, um pouco de romance e uma dosezinha de suspense. Um pouquinho longo demais pro meu gosto, mas vale super a pena)
O Menu - Star+ (mesmo com toques de um humor sórdido, o constante clima de suspense não te abandona, desde os minutos iniciais até o desfecho da trama. Curti muito!)
Um cadáver pra sobreviver - Mubi e Apple TV (o filme é de 2016, mas eu só vi agora e, olha… que filmaço! Foi um presente pra mim! Eu não vou ficar aqui tentando explicar o nível de insanidade que é esse filme, até porque essa seria uma missão impossível. Só digo que, pra assistir, você precisa estar com a mente beeem aberta. O mais importante é não matutar muito sobre os detalhes e deixar o filme correr solto. Tentar entender cada bizarrice é receita para que se perca a visão do todo e, principalmente, a beleza poética da coisa)
Aftersun - Mubi (ah, gente… eu fiquei completamente apaixonada por esse filme e escrevi sobre ele aqui, óh! Inclusive vou participar de um cineclube online com a maravilhosa Paula Jacob para discutir sobre ele amanhã e estou super animada!)
Não faço ideia se em fevereiro vai rolar outra lista como essa porque eu não sei se vou ter tempo de consumir tantos livros, filmes e séries. Portanto, faça bom proveito dessa edição especial e já encaminha pra geral ou manda pro crush convidando pra ver aquele filminho na sua casa. Depois, é contigo! ;)
E, é claro, sempre que eu tiver alguma dica legal, vou compartilhando aqui.
Volto em breve!
Beijos muitos,
Roberta Simoni.
Genteeeee! Quantas recomendações maravilhosas!! <3 <3